Ontem fui à reunião de pais na escola do meu filho de 4 anos e concluí que o mundo está mesmo de cabeça para baixo.
A professora disse que vão diminuir o tempo que as crianças brincam no parque para que elas tenham aulas de inglês e que neste ano as crianças aprenderão a escrever o alfabeto. A maior parte dos pais presentes adorou. Eu senti o sangue subir e argumentei duramente com a professora.
Primeiro: Não há benefício em ensinar uma segunda língua a uma criança de 4 anos porque ela não solidificou ainda o conhecimento da língua materna (português) e ela também não faz a mínima idéia do que seja outro idioma - ela simplesmente não entende por que deve falar "cadeira" de segunda a quinta e "chair" na sexta. Isso sem contar o aumento da pressão para que as crianças aprendam cedo coisas que não fazem sentido para elas. Talvez fizesse sentido se a criança morasse nos EUA, mas os pais falassem português em casa. Mas morando em um país que fala português, não vale a pena ensinar inglês antes.
Outro tema: É através das brincadeiras que as crianças aprendem a conhecer e interagir com o mundo. Vão reduzir o tempo que elas brincam no parque para dar mais aulas? Pra que?
Infelizmente para a professora eu tinha na mochila um exemplar do livro "Einstein teve tempo de brincar". No livro eles citam uma pesquisa que deduziu que
aos 9 anos, a única diferença entre as crianças que aprenderam a escrever antes do período escolar e as crianças que fizeram no tempo certo foi que as primeiras tinham maior incidência de stress. Nenhuma diferença de conhecimento foi constatada de maneira significativa. Portanto, sobrecarregar as crianças de 4 anos com toneladas de atividades não ajuda a criança, ao contrário, atrapalha o desenvolvimento.
A professora também disse que os alunos levarão para casa uma atividade para ser feita em casa uma vez por semana. Eu já avisei que a tarefa voltará para a escola no próximo dia do jeito em que foi enviada, ou seja, sem preenchimento. Criança não tem que levar lição para casa. Expliquei que todos os psicólogos que conheço são contrários à alfabetização antes da idade escolar (eu mesmo já estudei isso na faculdade).
O que me irritou mais foi que alguns pais defenderam que os filhos fossem sobrecarregados. Uma das mães presentes disse
"nós da área de educação sabemos que as atividades são importantes para a vida da criança". Merda nenhuma! Essa mulher faltou às aulas de psicologia, se é que teve alguma. As crianças devem ter o seu tempo para explorar o mundo, estabelecer relações saudáveis, ter boa formação de valores morais e ter a criatividade incentivada. Que a escola queira empurrar a alfabetização antecipada eu entendo, pois ela (escola) quer se destacar no mercado - ainda que seja fazendo algo prejudicial à criança. Mas não entendo que os pais defendam que os filhos tenham a infância roubada. Eu argumentei que eles seriam criança por apenas 10% de toda a sua vida, e que deveriam usar esse tempo para brincar e não para ter tarefas adultas - ela terá o resto da vida para ser adulta. Alguns entenderam, outros não.
Essa é uma armadilha das pré-escolas. A criança só mostrará o stress mais tarde, quandi já tiver passado pela pré-escola. Aí a culpa "passará" a ser da escola de ensino fundamental, segundo interpretação dos pais e a pré-escola se safa do que fez de errado.
O fato é que a professora já não gostava de mim, mas agora deve me odiar. Dane-se, eu sinceramente não ligo. Eu não poderia me importar menos com a opinião dela. Mas me assusta que os outros pais concordem com esse absurdo. Infelizmente terei que protestar junto à diretora da escola.
Muito da felicidade que sentimos durante a vida é consequência da nossa infância. Já refletiram sobre isso? Crianças com infância tolhida tendem a ser adultos mais infelizes (falo isso de observação e senso comum, mas vou procurar pesquisas sobre isso, pois faz sentido).
João Vitor, aos 4 anos, fanasiado de Sportacus. 
