quarta-feira, 11 de junho de 2008

Finlândia, Brasil e o abismo

Toda vez que eu venho para a Finlândia (sim, estou em Helsinki por uma semana - a trabalho) fico inconformado com o Brasil. A Finlândia é tudo o que o Brasil poderia ser, mas não é - por pura incompetência, que fique bem claro. Esta é a terceira vez que venho pra cá e devido a um evento que acontece na cidade os hotéis estão cheios. Como não havia lugar em Helsinki, onde fica a sede da empresa, me colocaram em um hotel perto do aeroporto, em Vantaa. Fica a meia hora do centro, em ônibus circular. Nada mal. Para ir trabalhar, me arrisquei a pegar um circular para sentir como é a vida de um Finlandês cumum. A minha conclusão é simples: É muito chato ser finlandês! Os ônibus são climatizados e seguem horários rigorosos. Todas as vezes em que tomei ônibus, havia espaço de sobra para sentar - e eu andei no horário de pico. Nada de gente se apertando como sardinha. Deve ser chato, afinal um finlandês não pode encoxar a gostosa que está de pé, cansada depois de trabalhar o dia todo e rezando pra que algum FDP sem consciência lhe ceda um lugar para sentar. Chato demais isso! Qual é a graça de pegar ônibus que sai no horário, chega no horário, não faz barbeiragens e ainda tem lugar de sobra para sentar nos bancos acolchoados? Ah... um detalhe: Como eu disse no parágrafo anterior, o trajeto todo demora meia hora. Baita chatisse chegar rápido no trabalho. Finlandês também não pode usar o trânsito como desculpa para um atraso "programado" no trabalho.

Calma, ainda não falei tudo...


Depois de alguns dias indo e voltando de ônibus, tinha uma vaga em um hotel
em Helsinki. Fica longe do escritório, mas ao menos seria em Helsinki. Quando procurei informações na internet descobri que o hotel fica em Pasila, e que os finlandeses consideram a área como a mais feia da cidade. Fiquei assustado mas fui conferir. A área está longe de ser feia para os padrões brasileiros (veja foto ao lado), mas realmente não é bonita pelos padrões finlandeses. No Brasil, uma área feia tem uma favela por perto, ponto de venda de drogas e crime rolando solto. Na Finlândia, o "feio" é só "menos bonito". Como que nós, brasileiros, podemos reclamar da vida? Nossa vida tem emoção todos os dias! Sair de casa torcendo para que uma bala perdida não acerte nossas cabeças é adrenalina pura. Adrenalina faz bem pro coração. Os finlandeses, coitados, morrem de tédio.

Outra coisa que me enche o saco aqui é que todo mundo é educado. Apenas a população mais velha (acima de 55 anos, mais ou menos) não fala inglês. Dá pra se comunicar com quase qualquer pessoa em inglês, finlandês ou sueco. Mesmo no McDonnalds(*) ou em qualquer farmácia, as menininhas de 16 anos falam inglês muito bem. Dá pra comprar qualquer coisa sem precisar se preocupar. Dá até mesmo pra aprender com as atendentes - eu, por exemplo, não sabia que analgésico é "painkiller" em inglês. Faz sentido (pain=dor, killer=matador), mas eu não sabia. Aprendi mais uma.

O problema do povo ser educado é que não dá pra ter empregada em casa. Afinal, as mulheres estão no mercado de trabalho ganhando como os homens - aqui mulheres e homens são rigorosamente iguais no que tange ao trabalho e
profissão. Por isso, não tem aquela mulher que faz faxina pra não morrer de fome, preocupada porque tem outra ainda mais necessitada que ganha menos para fazer o mesmo serviço. Portanto, os finlandeses devem eles mesmos limpar a casa, lavar e passar a própria roupa. Pô... isso não dá pra engolir! Em nome de uma sociedade avançada, eles têm que cuidar de tudo sozinhos. Como são burros! Seria mais fácil ter uma quase-escrava pra fazer isso. Claro que, devido à educação - gratuita do maternal ao pós doutorado, o nível de criminalidade é absurdamente baixo. Algum brasileiro quer deixar de ter empregada só pra não ser assaltado? Claro que não. Por isso votamos em políticos que fazem a nossa educação ser pior a cada dia (isso é algo que vou tratar em outro post). Um "viva" para as empregadas domésticas, os pedreiros que só são pedreiros para não morrerem de fome - porque fome eles já passam, só que o pouco que comem não permite que morram, para que continuem passando fome - sem qualquer expectativa de uma vida melhor.

Agora uma piada: Os finlandeses conseguem viver como que ganham de aposentadoria! imagine o cara trabalhar a vida toda, se aposentar e conseguir
viver dignamente! Só pode ser uma piada de mal gosto. Bom é no Brasil, onde aposentado tem que trabalhar pra poder comer. Afinal de contas, ficar em casa sem fazer nada faz mal para o indivíduo.

Resumindo: Toda vez que venho pra Finlândia eu fico triste com o que vejo - porque sei que terei que voltar pra minha vida terceiro-mundista, com o povo que diz que "o mensalão começou no governo FHC, então o Lula pode ter mensalão também", com os eleitores dos Malufs, das Martas Suplicy e dos Garotinhos da vida. Fico triste também porque sei que seríamos como a Finlândia, mas sem o inverno
rigoroso, se investíssemos em educação o que o BNDES dá quase de graça para as empresas privadas que fazem lobby no governo enquanto a população pobre paga juros exorbitantes aos bancos particulares.

A culpa é de quem? É de quem vota.
Brasil, um país de tolos.

Você ficaria feliz se estivesse no meu lugar? Seria melhor nem saber que a
Finlândia existe e ficar feliz porque temos carnaval em fevereiro.

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Nota 1: (*) A Finlândia tem um "McDonnalds" próprio: O Hesburger. Parece McDonnalds, tem gosto de McDonnalds e tem preço de McDonnalds. Não dava pro país ser perfeito em tudo.

Nota 2: Se você achou um absurdo o que eu escrevi, leia esse texto sobre ironia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Ricardo
Estou adicionando o seu Blog aos meus "Favoritos", como fiz com o do Mauro e o da Letícia. Beijos, Lara